segunda-feira, 21 de maio de 2007

CORPO HUMANO

Por que o ato de pensar e aprender é tão exaustivo?
Que energia é essa que gastamos para conseguir formular
um pensamento ou aprender um conceito?
Por que nos recuperamos mais depressa de um trabalho
físico do que de um trabalho intelectual?


O cérebro consome energia para a realização de tarefas,
assim como todo o resto do organismo. Essa energia
vem da quebra de moléculas, principalmente a glicose.
Seja para realizar um ato de pensamento ou um de esforço
conceitual, a energia utilizada será proporcional ao
número de neurônios (células nervosas) envolvidas no processo.
Nada indica que aprender requeira mais energia do que subir uma ladeira. No
entanto, o trabalho cerebral pode exigir um número muito maior de etapas de
processamento neuronal do que a simples execução de um programa muscular já
conhecido ou fácil.
Imaginar qualquer relação entre atividade mental e consumo de energia é o
mesmo que perguntar se um motorista gasta mais gasolina se estiver dirigindo
com prudência e habilidade do que se estiver conduzindo seu carro de maneira
deselegante e perigosa. No limite, pode haver uma relação entre dirigir com graça
e elegância e consumir menos energia. Da mesma forma, o indivíduo que gasta
mais energia para pensar pode estar realizando alguma tarefa acima de sua capacidade
ou de dificuldade exagerada.
Não há uma relação importante entre gasto de energia, sensação subjetiva de
exaustão (que depende também de outros fatores) e processamento mental –
este em oposição ao processamento de planos motores, como os envolvidos em
um exercício físico.
[CH 133 – novembro/1997]

É verdade que café com leite diminui o raciocínio?

Não. Ao contrário. O café possui 1% a 2% de cafeína, substância
que estimula a atividade intelectual, a memória e o
raciocínio, melhorando inclusive o aprendizado escolar.
O segredo está na dosagem: esses benefícios podem ser
sentidos desde que se tome café com moderação. Entenda-se por moderação três
a quatro xícaras ao longo do dia – nunca à noite –, conforme a tabela abaixo.
Além da cafeína, o café possui em maior quantidade ácidos clorogênicos, que
bloqueiam o desejo de autogratificação proporcionado por opiáceos (drogas à
base de ópio) que pode levar à depressão e ao consumo de drogas.
O café pode ser tomado puro ou com leite, o que apenas aumentaria seu valor
nutritivo, algo importante para crianças e idosos.
Por isso, seu consumo diário e moderado é um
hábito saudável e recomendado para melhorar
o raciocínio e o estado emocional
das pessoas. Nossas pesquisas, efetuadas
durante mais de 10 anos, permitiram
estipular dose e horário certos para
o consumo de café por adultos e crianças,
com organismos sadios, conforme o
esquema a seguir. É importante lembrar
que cada xícara pequena possui 50 ml de café e que a xícara grande tem 150 ml se
cheia e cerca de 100 ml se quase cheia (meia taça).
[CH 170 – abril/2001]
Consumo da café Início da manhã Meio da manhã Início da tarde Meio da tarde
Até 10 anos 50 ml 50 ml 50 ml 50 ml
10 a 15 anos 100 ml 50 ml 100 ml 100 ml
15 a 20 anos 100 ml 100 ml 100 ml 100 ml
20 a 60 anos 150 ml 150 ml 150 ml 150 ml
Acima de 60 anos 150 ml 100 ml 100 ml 50 ml

Por que temos preferência por certas cores, objetos,
comidas, roupas e até pessoas?

Seja na hora de escolher a comida ou um parceiro para
toda a vida, a preferência é provavelmente uma combinação
da genética com a experiência de vida de cada um.
Variações naturais em genes que determinam a estrutura
de receptores no sistema nervoso podem direcionar desde preferências alimentares
até o gosto por esportes radicais.
Quem possui, por exemplo, uma variante pouco sensível de um receptor para
o gosto doce, encontrado sobretudo em mulheres, costuma
ser ‘mais chegado’ em um docinho, ou seja, precisa comer
mais doce para obter a mesma satisfação. As mulheres,
aliás, também são menos sensíveis a substâncias amargas.
Talvez por isso esse sabor, repulsivo para os outros,
para elas é tão sutil que se torna agradável.
Da mesma maneira, receptores naturalmente pouco
sensíveis à dopamina, substância que o sistema de re-
compensa do cérebro interpreta como prazer, são encontrados em pessoas que
gostam de correr os riscos em esportes radicais. O comportamento de risco provoca
a liberação de grandes quantidades de dopamina, e assim os receptores
pouco sensíveis ficam finalmente saciados.
Variações genéticas, no entanto, são apenas uma base sobre a qual agem
fatores ambientais, como a influência social da família e da cultura. A própria
preferência alimentar é influenciada diretamente pelos hábitos alimentares de
cada cultura. A escolha dos traços de personalidade em um candidato a parceiro
parece ser outro exemplo de influência social, segundo a experiência com os
familiares mais próximos.
[CH 189 – dezembro/2002]

Por que os animais sentem sono?
Dada a evolução dos organismos, não poderiam
permanecer em vigília 24 horas?

Nem tudo o que caracteriza os seres vivos reflete necessariamente
uma utilidade ou função. Os exemplos da
cauda do pavão e do apêndice cecal humano ilustram bem
essa afirmativa. Será que nosso sono, o de quase todos os
mamíferos ou das aves pode ser considerado um acessório
sem “utilidade” do ponto de vista da sobrevivência dos organismos?
Tudo indica que não. Mas se indagarmos sobre a utilidade do sono para quem
estuda o assunto, provavelmente a resposta será que não há apenas uma, mas
muitas utilidades. Uma delas diz respeito à coincidência entre sono e certas atividades
orgânicas, como a secreção de vários hormônios em mamíferos. O sono
não é responsável pela produção e liberação desses hormônios, mas sem dúvida
as intensifica. Tal constatação caracteriza o papel do sono como facilitador dos
processos de produção desses hormônios.
Outra utilidade aparente do sono é sua capacidade de propiciar distintos modos
de funcionamento do cérebro durante uma noite, que se manifestam sob a
forma de estágios: sono superficial, sono profundo e sono paradoxal. Esses dois
últimos apresentam o que se convencionou chamar de ‘efeito rebote’: um indi-
víduo privado de uma noite de sono compensa
essa privação na noite seguinte, exibindo
preferencialmente os dois estágios. O sono
parece estar ligado à capacidade do cérebro
de adquirir e resgatar informações, como atestam
os experimentos que associam sono e memória.
Além de dificultar a aprendizagem, a
falta de sono induz modificações importantes no humor das pessoas.
Tais fatos mostram a importância do sono e talvez expliquem sua presença em
diversas espécies. Em invertebrados, embora seja discutível chamar o estado de
inatividade de sono, a alternância entre atividade e repouso é uma regra. A suposta
“inutilidade“ do sono não tem, pois, fundamento científico, adequando-se
a um tipo de mentalidade que só entende a funcionalidade dos fenômenos biológicos
quando esses têm relação imediata de causa e efeito. Por outro lado,
permanecer em vigília constante não é compatível com a especialização de animais
de hábitos diurno e noturno. Os primeiros seriam presas fáceis de eventuais
predadores noturnos. Você já se imaginou fugindo de uma onça na floresta em
plena noite escura?
[CH 148 – abril/1999]

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