domingo, 22 de junho de 2008


Intertextualidade

Adélia Prado, poeta mineira, escreveu:

Quando nasci um anjo esbelto,
Desses que tocam trombeta, anunciou:
Vai carregar bandeira.
Cargo muito pesado pra mulher,
Esta espécie ainda envergonhada.
Se você leu os poemas de Carlos Drummond de Andrade do livro Alguma Poesia, reconheceu a semelhança dos versos de Adélia com o início do "Poema de Sete Faces":

Quando nasci, um anjo torto
Desses que vivem na sombra
Disse: Vai, Carlos! ser "gauche" na vida.

Essa relação entre textos é o que chamamos de intertextualidade. O primeiro texto cita o segundo, estabelece com ele um diálogo, faz referência ao célebre poema de Drummond.
Para poder perceber relações intertextuais, é preciso ter repertório e conhecimentos literários e culturais em geral. Muitas questões de vestibular pedem que você reconheça esse tipo de relação entre textos, sejam eles livros, músicas ou propagandas.
Veja um exemplo de diálogo entre músicas.

Chão de Estrelas (Sílvio Caldas e Orestes Barbosa)
A porta do barracão era sem trinco
Mas a lua, furando o nosso zinco
Salpicava de estrelas nosso chão
Tu pisavas nos astros, distraída S
em saber que a ventura desta vida
É a cabrocha, o luar, o violão

Caetano Veloso, em Livros, retoma esse clássico de nosso repertório musical:

Tropeçavas nos astros desastrada
Sem saber que a ventura e a desventura
Dessa estrada que vai do nada ao nada
São livros e o luar contra a cultura. (...)
Tropeçavas nos astros desastrada
Mas pra mim foste a estrela entre as estrelas.

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